segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Curtas III

Patente pertinente seria a de uma Depuralina metafísica. É onde se acumulam os resíduos mais pesados.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Aparentemente o cu não diz com as calças. Aparentemente.

À bout de Souffle (1960) - Jean-Luc Godard

Era uma vez uma menina a quem partiram o coração,
ela pegou nos cacos todos e colocou-os no vidrão.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Encontrei esta frase perdida num talão*

Entras-me pela pele. Posso fechar os olhos e a boca, tapar os ouvidos, mas não posso esconder todos os poros - ou evitar arrepios.
Rasgas-me quando não me tocas. Se me tocasses não rasgava, tornava-se concreto e perdia a força.
Tudo o que não acontece, acontece em nós com mais intensidade. É antes de acontecer que tudo é mais, tem mais poder, por tudo o que se idealizou, por tudo o que pode ser, porque pode ser tudo, acabar de todas as maneiras. Depois, é apenas o que foi.

A música, porque não a podemos agarrar, agarra-nos. Não a podemos possuir, tocar. Somos meros espectadores. Não perde a intensidade do meio porque é o meio, e entra, sem que tenhamos qualquer controlo, conta-nos as histórias que quer e conduz catarses.

A música e o desejo são feitos da mesma matéria, contam histórias que imaginamos mas que nunca foram as nossas. Porque, como num belo tango, a beleza está no que separa, no espaço que existe entre duas bocas.

O desejo alimenta-se do desencontro. Que não é o não encontro, mas um encontro que se dá em tempos diferentes.
Vive na corda bamba. Naquele (des)equilíbrio. Na forma como nos agarramos e empurramos. Para não nos encontrarmos, para não nos perdermos.

Vives em mim como uma personagem, com as máscaras que te vesti, não sendo tu, és outro, aquele que escolhi.




p.s.: Dos grandes amores só se escreve quando acabam. Os desejos, vivem mais no papel que no coração, ou no corpo, ou noutro sítio.


*O desejo vive na corda bamba.

domingo, 24 de outubro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Do Kitch aos jogos olímpicos

Nutro, e não é de hoje, uma certa antipatia pela China. Quem me conhece de perto sabe que cumpro um boicote pessoal a artigos chineses que não têm outra mais valia que a de um preço conseguido por meios, vá lá, duvidosos. E não me refiro só às condições de trabalho exploratórias, refiro-me também à precariedade dos materiais. As lojas dos chineses parecem-me sempre depósitos de lixo-à-espera-de-acontecer. Os objectos têm um vida curta e indignificante. Depois, e principalmente, os motivos de ordem pessoal. Não consigo ser indiferente ao que se passa na China. Admiro alguns aspectos da sua cultura (e sei que esta é provavelmente inseparável dos acontecimentos que desaprovo). Tenho, no entanto, dificuldade em compreender muita coisa: a história de matarem/não quererem meninas (uma forma de controlo de natalidade, no mínimo, desumana), a pena de morte, a censura, a falta de liberdade de expressão, a desvalorização do indivíduo, a ditadura, o desrespeito geral pelos direitos humanos. A própria e mítica muralha foi ordenada pelo mesmo homem que mandou queimar todos os livros anteriores a ele. A sensação que tenho, é que as coisas não mudaram muito, a China continua de alguma forma separada do mundo, agora, através do controlo (passe o eufemismo) de informação que entra e que sai. A “verdade” é desenhada e a verdadeira é “queimada”. Na China não se vive em Paz, ou vive, numa aparente paz armada. O massacre de Tiananmen é ainda reflexo da forma como se resolvem “problemas” naquele país, naquela mentalidade. Logo, acredito que, quem luta contra este regime, está a lutar pela paz.



O Nobel da Paz pareceu-me oportuno. Senti isso quando no trabalho percebi que havia quem não soubesse sequer que a China é regida por uma ditadura (teoricamente) comunista. Ou quando vi nas pesquisas mais frequentes do yahoo o nome de Liu Xiaobo. Também não sei se tinha de ser ele, mas acredito que a chamada de atenção para o que se passa na China foi pertinente, assusta-me uma ditadura estar a tornar-se numa potência mundial. E o mais estranho, é que a censura comum na China é como um assumir de que algo não está bem, quem não deve não teme. Não esconde. A censura à própria notícia acerca do Nobel, a prisão domiciliária da esposa de Liu Xiaobo, o cancelamento de visitas e corte de relações: a própria reacção ao Nobel só reforça a pertinência do mesmo.


Chocou-me a associação deste Nobel ao anterior, Enjoa-me a ideia de que todo o mal no mundo é culpa da América. Parece-me uma posição redutora e cobarde. Para acabar, e por onde começou esta revolta, a posição do PCP em relação a este Nobel. Pareceu-me extremamente deselegante esta pretensa solidariedade partidária. O Regime Chinês é uma ditadura, e de comunista, tem cada vez menos. Quem quer respeito tem de se dar ao respeito. Assim, a minha imagem da China é ainda povoada por uma menina bonita a cantar com a voz de outra, mais feia.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"sometimes lonely isn't sad"*

Li recentemente uma frase já não sei de quem, e que não consigo reproduzir textualmente, mas cujo conteúdo se resumia na ideia de que uma pessoa que se sentisse entediada quando sozinha, não seria uma pessoa interessante. Apercebi-me de que gosto de estar sozinha. Sozinha, estruturo-me para não me perder. E nesses momentos a minha vida é mais bonita, mesmo do ponto de vida estético.

Em casa, sinto-me a actriz principal de um filme qualquer. Seduzo-me. Visto calções curtos e não dispenso o soutien, a casa tem espelhos. Cozinho mais devagar, arrisco mais, experimento e surpreendo-me, porque não posso correr o risco de me cansar de mim. Bebo sempre em copo alto. Preparo a mesa com cuidado, como a meia luz, oiço música. Leio, páro quando quero, recomeço, volto atrás. Vejo filmes que interrompo para fazer print-screen. Também estendo a roupa e passo a ferro, de preferência ao pôr-do-sol, é preciso aprender a conhecer em nós estes pequenos caprichos e satisfazê-los. Acontece tudo ao meu ritmo e entendo-me bem comigo, desfruto da minha companhia e sou feliz nesses momentos.


Seduzo-me. E como em qualquer outra história de sedução há algo de falacioso. Uma parte que se esconde.


*"Thieves", She&Him

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Curtas II

Dizem que as galinhas são estúpidas porque se alguém traçar um risco no chão não passam para o outro lado. Estúpido é o Homem, que precisa apenas da sugestão do tal risco.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

N. - Que é isso?
A. - É uma cena para pôr nos lábios.
N. - Cheira bem. Dá vontade de comer.
A. - Pois. É por isso que o ponho nos lábios.
N. - Nos quais?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Domingo

Se existe objecto mutável na minha casa é a estante. Não sou de sobrecarregar os objectos com significados nem os significados com objectos. Considero, no entanto, ingrato reduzir o livro a objecto. Gosto de possuir livros, não os possuindo porém, como não se podem possuir ideias.

Domingo cheguei desarrumada a casa, decidi portanto, rearrumar a estante. Para me acompanhar, fugindo ao excesso de palavras, escolhi Beethoven. Despi a estante de livros e construi com eles vários montes sobre a mesa, onde os misturei propositadamente, obrigando-me assim a debruçar-me sobre cada um. Fui pegando neles, um a um, olhei-os com admiração e algum desejo. Voltei a colocá-los na estante sob outras lógicas. Pelo meio alguns casos complicados, como aquele pequenino de provérbios japoneses, que não sendo outra coisa, acabou filosofia.
Terminada a tarefa peguei em “Platero e eu” (Juan Ramón Jimenez) e sentei-me na cadeira de baloiço junto à janela. Abri onde o tinha deixado:


Domingo
(...)
Todos, até o guarda, foram à aldeia ver a procissão. Ficamos nós sozinhos, Platero e eu. que paz! Que pureza! Que bem-estar! Deixo Platero no cimo do prado e deito-me, debaixo de um pinheiro cheio de pássaros que não se vão embora, a ler. Omar Khayyám...
No silêncio que fica entre os repiques, o fervedouro intenso da manhã de Setembro ganha rumor e presença. As vespas aurinegras voam à roda da videira carregada de sadios cachos moscatel, e as borboletas, que andam confundidas com as flores, parece que se renovam, numa metamorfose colorida, ao revoar. A solidão é como um grande pensamento de luz.
De vez em quando, Platero deixa de comer palha e olha para mim... Eu, de vez em quando, deixo de ler e olho para Platero...”


Olhei de novo para a estante, e assim, meio que por acaso, reparei que estava tudo no sítio certo. Fechei os olhos e deixei a tarde descansar em mim.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Este também foi escrito por uma moça.

Hoje fui violada por uma memória. 
Comecei por tentar resistir-lhe, acabou por tomar conta de mim. Por momentos deixei de estar onde estava para estar onde estive. Acabei por ter prazer. Lembrei-me automaticamente de uma frase da Faíza Hayat que é qualquer coisa como “os homens cultivam o esquecimento, as mulheres cultivam a memória”. Dos homens não vou escrever, porque não sei. Não sou, nunca fui, e embora a ciência torne arriscada a palavra impossível, parece-me improvável que venha a ser, um homem. Questionei-me então se seria um masoquismo próprio das mulheres cultivar a memória. Talvez. 


Pensei em mim. Não as cultivo, mas gosto que me apanhem desprevenida. Gosto que as memórias me arrepelem, que me surpreendam de vez em quando. Às vezes magoa, mas é uma dor bonita, viciante, que me acaricia o rosto, porque me magoei enquanto respirava. Se a memória é minha, fui eu. O que sou hoje é o que senti ontem. 


Já houve alturas em que tentava apagar memórias, desisti, porque nunca sabia quais as memórias que me apagariam. Resistir às memórias parece-me cruel, é mais uma forma de me negar.


Com as memórias, como com tantas outras coisas, acredito que o truque é aceitar. Tudo aquilo que tentei largar agarrou-me com mais força. Porque fechar gavetas com pontas de fora, é inútil.

terça-feira, 27 de julho de 2010

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A história das moelas

No meio de uma conversa completamente banal que estava a levar em modo de piloto automático, sou de repente acordada. (pergunto eu:) “Mas gostas dele?”, “Não sei. Quer dizer, gosto... mas não é aquela coisa... acho que só podemos gostar “daquela” maneira quando é a primeira vez. É preciso ser uma folha de papel em branco para amar”. Sorri, em acordo. Estas palavras vieram da pessoa mais improvável. A conversa seguiu mas a história da folha em branco ficou. Lembro-me de uma frase que publiquei ainda no Sobre as Nuvens: “Só amei uma vez na vida. Se soubesse o que sei hoje teria provavelmente sido diferente. Se tivesse sido diferente nunca saberia o que sei hoje.” É preciso ser folha em branco e só se é folha em branco uma vez. E nessa vez podemos ser riscados, dobrados, amarrotados, rasurados de todas as maneiras. Depois não. Podemos apagar os traços, mas a pressão do lápis e os vincos ficam. lmperceptivelmente, mas ficam, desenhados no silêncio do papel.



O corpo só é acordado uma vez, todas as outras são repetições.


Da primeira vez tudo pode acontecer. Da primeira vez é tudo puro e verdadeiro, sente-se mais, é tudo inteiro.


Da primeira vez entrega-se. Não são precisas certezas, acredita-se. Aceita-se. Anseia-se, corre-se, espera-se. Oh, suspira-se. Da primeira vez confidencia-se, revela-se, dizem-se segredos. Da primeira vez diz-se tudo, dizem-se as vezes que for preciso. Da primeira vez valoriza-se, agradece-se. Da primeira vez, luta-se, tenta-se, dá-se, mais ainda. Da primeira vez fazem-se loucuras, é-se espontâneo. Da primeira vez compram-se flores e escrevem-se cartas de amor. Da primeira vez desenham-se futuros. Da primeira vez arrisca-se tudo. Da primeira vez não se medem os prós e os contras, não se racionaliza nem se contabiliza, não há contractos nem se medem os dotes, não interessa o que os outros pensam. Da primeira vez há amor. Só amor (como se só amor não chegasse, pensa-se). Da primeira vez ainda não se sabe como dói, não se sabe como parte, como rasga. Não se sabe como é vazio, e incompleto, como falta, como sufoca.


Da primeira vez pensamos que será a única, não questionamos sequer se será a única porque não cabe em nós a ideia de repetir tudo de novo. E se calhar é mesmo assim. Se calhar deixámos todos qualquer coisa na primeira vez.


Tenho para mim que não era de ti, era de mim, da forma como te senti. Foi a primeira vez. Hoje, sei que não eras tu. Só não sei ainda qual era o segredo daquelas moelas que fizemos juntos. Foram as melhores... Estes anos depois, continuo a tentar repeti-las todas as vezes que cozinho moelas, nunca consegui. Desconfio que o segredo não estava nas moelas.

Princesa da Ervilha

by Nathalie da Silva


"Não leio o teu blog porque não tem imagens" disse a Nathalie. Mas o desejo de o ler era tão grande, que resolveu a própria o problema em questão e desenhou-nos uma bonita princesa de vestido vermelho.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Aforismos I

Há poucos códigos mais certos e silenciosos que o encasar do último botão. Porque há coisas que só se dizem quando estamos nus e não há roupa para vestir as palavras.

Este post foi escrito por uma mulher. Que não se espere coerência ou objectividade.

Dançam-me no olhar imagens do fumo a desaparecer devagar nos contornos das noites que passei acordada à janela com o cigarro na mão. Procurava desaparecer com o fumo, misturar-me com a noite. O candeeiro de luz amarelada iluminava a magnólia e tingia de ouro as flores brancas. E eu sentia-me especial, porque poucas pessoas se estariam a sentir tão destruidas como eu, e isso também é ser especial. Houve dias em que juntava um copo de vinho ao cenário, e nesses dias podia morrer porque era bonito encontrarem com o corpo um copo de vinho meio bebido, uma garrafa vazia e um cinzeiro a abarrotar de beatas.

O sofrimento é belo. Na arte, enquanto elemento estético, a dor é incontornável. Na vida não. Por opção ou postura perante a vida, não.

Há aquele estereótipo do artista, despenteado e bêbado, com o cigarro numa mão e a caneta na outra, numa mesa qualquer de um café rasco com esplanada. No caderno deitado na mesa, palavras ou traços.

Ao artista perdoa-se tudo, pode tratar mal a mulher, ou cuspir no chão, pode não pagar a renda e dizer asneiras, pode fumar droga ou injectá-la nas veias, ou fazer aquilo que lhe passar pela cabeça, como ter sexo com uma prostituta, ou com duas ou com três ou com homens, ou com todos ao mesmo tempo.

Ao artista perdoa-se tudo, porque ninguém o compreende, e nem tenta, porque não se chega lá. O artista é um génio, logo tem de estar desiludido com a sociedade medíocre, tem de rejeitá-la e gozar com a cara dela. Não tem tempo nem paciência nem disponibilidade para se deixar surpreender. Isso significaria estar aberto e pelas aberturas podem entrar correntes de ar que tirem as coisas do sítio onde estão, tão bem arrumadinhas.

Não percebo quando é que a felicidade passou de moda. Não compreendo porque é que as pessoas deixaram de utilizar a inteligência e a criatividade para viver, com mais significado. Achar que a vida não tem mais nada para nos inspirar é estúpido. Ser passivo-deprimido-céptico-ou-o-raio-que-o-parta não é moderno, é cobarde.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

:)

Hoje vivi um daqueles momentos raros, quase mágicos, tão simples, que nos fazem abrir um sorriso, espontâneo, incontrolável. Saí de casa e dirigi-me ao carro. Estava ao mesmo tempo a chegar uma mãe com um filho, pelos seus 3 anitos. Reparei que o miúdo olhou para mim a sorrir, mas não liguei, pensei que fosse coincidência. Estava já a ligar o carro quando o vi parado do lado de fora, a olhar-me pela janela, e a acenar-me com um sorriso rasgado. Não lhe resisti. Sorri e acenei de volta. A mãe esperava a 5 metros dele, à porta do prédio, e ele desceu a rua só para me acenar. Ainda o vi voltar para a mãe que o recebeu com outro sorriso, orgulhoso. Eu arranquei e desci a rua, sempre, sem parar de sorrir. E foi assim que a espontaneidade de uma criança colocou 2 adultos com um ar cansado a sorrir, como se tudo fosse perfeito.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O meu avô

O meu avô comove-me. Chega-me ao coração antes de me chegar à cabeça. Ainda nem percebi o que ele está a dizer e já tenho os olhos molhados e só me apetece abraçá-lo e não existem guerras nem fome nem desemprego nem injustiças sociais quando o meu avô sorri para mim e me diz que sente falta dos nossos passeios de bicicleta. E eu sinto mais falta ainda. Agradeci-lhe ter a coragem de mo dizer. Porque o meu avô é o meu lado feliz, simples. E os passeios de bicicleta e os pinhões a saber a terra são a metáfora dessa felicidade. Naquela altura a minha bicicleta era mais pequena e para olhar para o meu avô eu tinha de olhar para cima. O meu avô sabia tudo. Hoje, já não tenho de olhar para cima, e o meu avô continua a saber tudo. Acabámos a falar do 25 de Abril. Foi nesse dia que o meu avô disse uma frase que me acompanha: “eu não quero acabar com os ricos, quero acabar com os pobres”. Saí de lá a chorar. Era toda pássaros a cantar e roseiras carregadas de flores e camas de bonecas e serrotes, pregos e latinhas de tinta, uma escada íngreme para um sótão abandonado e um jogo de madeira, pintado à mão. E um sorriso, tantos sorrisos.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

este post não é sobre política

Fazem-me comichão as prioridades morais de algumas pessoas.
Todo este aparato em torno da ausência do Presidente da Républica Cavaco Silva no funeral de José Saramago confunde-me. É do conhecimento público que os senhores não se davam. O segundo assumia publicamente algum desprezo pelo primeiro. Num funeral lida-se com a morte. Que é tipo a coisa mais verdadeira e incontornável de que me consigo lembrar assim de repente. Um momento íntimo, que não faz sentido que não tenha sentido. Acredito, em respeito à personalidade coerente do Sr. Saramago que ele se estaria nas tintas para a presença do Sr. Presidente. Colocar “obrigações do cargo” à frente das relações humanas provoca-me algum asco. Ao mesmo tempo respeito o Sr. Presidente, que acredito que tem inteligência suficiente para perceber que foi uma péssima jogada política. O que é engraçado no meio disto tudo, é que as pessoas que acham muito feio o Sr. Presidente não ter ido ao funeral são as mesmas que também acham muito feio uma Sra. Professora ter sido afastada do cargo de lidar directamente com crianças por ter posado nua para uma publicação que tem como funcionalidade aumentar as taxas de natalidade, enquanto ferramenta nos bancos de esperma. Colocar em causa a apreensão pedagógica de valores básicos como o respeito (no mínimo dos alunos em relação à dita professora - acrescento - não se trata de puritanismos extremistas, só me questiono como seriam as aulas com os meninos todos a ver a revista às escondidas, a rir e a apontar, a rasgar as melhores fotos e a deixá-las em posições estratégicas) é um preço ridículo a pagar pelo acto heróico da Sra.. Ora, a Sra. Professora é livre. o Sr. Professor é Presidente da República. Colocar em causa pedagogias todos perdoam, a verdade nas acções é que não.

...e a ervilha saiu da vagem.

O Sobre as Nuvens viveu quase 5 anos e sinto-lhe a falta. Como, ao contrário das pessoas, os blogues se podem substituir, aqui vem a Princesa da Ervilha. Tenho por hábito pensar em capítulos, na altura em que matei o Sobre as Nuvens não fazia sentido partilhar aquilo em que penso porque me parecia desnecessário para mim e para os outros. Há uns tempos li num artigo qualquer que as crianças não deveriam ter problemas em deixar os colegas copiarem, (...) assim se trocam inspirações. Não pretendo com este blog alterar a opinião de ninguém, mas se provocar alguma discussão fico satisfeita.