Visitei a exposição de inauguração da galeria de um conhecido, sabendo apenas que o espaço era um talho, que funcionava como tal alguns dias por semana.
Só pode ser uma mais valia cruzar um espaço (talho) com uma temática aparentemente díspar (arte). A aparente desconexão estimula a interligação de conceitos, numa experiência de laivos sinestésicos.
Na arte deixei de procurar a obra, procuro a experiência. A obra existe, mas como elemento, não como finalidade.
A dada altura da visita, chega uma velhota. Conta as suas histórias e no final deixa um pão caseiro, cozido nessa manhã, e um pacote de manteiga, “para engordar as cachopas”, justifica-se, rasgando um sorriso malicioso, num rosto que carrega nos olhos a profundidade dos anos.
É a vertente não planeada que acaba sempre por me envolver. O espaço para o acidente/incidente. Toda a experiência se enaltece perante o acaso, ou não fosse o plano a antecipação de uma experiência, constrangendo assim a percepção da mesma. A expectativa mata tudo. O imprevisto, enquanto potenciador da experiência, é imensurável.
Neste caso, fazer de um talho galeria já trazia em si um quase acidente, a sensação de desencaixe que possibilita infinitos encaixes, pelo espaço que existe para eles.
É exactamente essa a função da arte para mim, que me tire de um sítio e me leve para outro, que me faça mexer, relacionar, estabelecer pontes.
No final, encontrei exactamente aquilo que procuro aquando de uma experiência estética, alguma desconstrução, e a quebra de lugares comuns.
p.s.: não era por aqui o objectivo do post, mas não resisto a comentar a beleza improvável da dicotomia carne/arte, enquanto alimento físico/metafísico.
p.s.: não era por aqui o objectivo do post, mas não resisto a comentar a beleza improvável da dicotomia carne/arte, enquanto alimento físico/metafísico.