quarta-feira, 11 de maio de 2011

Curtas V

Na comunicação escrita de uma relação afectiva nunca gostei de abreviar a palavra beijo. 
É sempre mau sinal quando se abrevia um beijo.

domingo, 8 de maio de 2011

Domingo II

Eu e ele discutiamos a possibilidade de recriar aquelas noites. Aquelas que guardamos com tanto saudosismo. “Chá de Letras”, de imagens, do que quer que fosse trazido para aquela sala e debatido até ao amanhecer.
Saudosismo vão, não só pela dificudade de juntar os intervenientes, mas, e mais, pelas formas diferentes que fomos assumindo, ajustando-nos, cada um, ao crescente - e descrente - conteúdo.

Morreu o ardor com que especulávamos o mundo, com que questionavámos e duvidávamos, dispostos a negar tudo e a acreditar em tudo. Deixávamo-nos cativar pelas interrogações, era tudo estímulo para as nossas mentes virgens e despreconceituosas. Adorávamos a noção de saber nada, ter tudo para explorar.

Hoje, deixámos de especular e passámos a armazenar factos, actualidades e opiniões alheias  - como se isso importasse – urgentes na acumulação mas dormentes no pensamento, na forma como (não) nos deixamos afectar. Arrumamos os dados em caixas, correctamente etiquetadas, ao alcance rápido da língua, para utilizar em caso de necessidade de valorização social, numa conversa qualquer, que poderia acontecer com qualquer par de pessoas que siga os requisitos mínimos de estar minimamente informado acerca de meia dúzia de assuntos “certos”.

Nessa altura, brincavam comigo e desafiavam-me a fundar o PPV, Partido dos Prados Verdes. Dos Prados Verdes, pela ingenuidade optimista com que pintava tudo. Via o mundo terno e infinito, era tão romântica e idealista. Sorrio, complacente comigo, ao mesmo tempo que me apercebo que não sei se sinto mais falta daquelas noites, se daquela eu.