quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012

Acabei por a admirar precisamente no momento em que vi nela exposta a fraqueza. A fraqueza dos fortes é sempre bonita. A capacidade de um forte ser fraco é o expoente máximo da coragem. É uma fraqueza que comove porque o separa de uma máquina, humaniza-o. São as fraquezas dos fortes que mostram que a sua força não é apenas um evoluído mecanismo de defesa.

2011

E o melhor de 2011, para não dizer de uma vida, ficou mesmo em Janeiro, no primeiro conto que escrevi com princípio, meio e fim. Fica aqui um momento:

“–... sentias o mesmo prazer a desenhar uma mulher?
(...)
– Não. Provavelmente não.
Tinha essa consciência mas fugia à pergunta, toda a verdade tem um limite de desconforto e constrangimento. Nunca tive vontade de desenhar uma mulher ou um homem vestido. Quanto à roupa, sabia que esconderia qualquer coisa. Não ter vontade de desenhar uma pessoa do sexo feminino sabia que não poderia ser inocente.
Enquanto a mulher que sou, tenho noção da potencialidade do masculino enquanto sugestão. Na culinária, na música, noutras artes, na vida, é o masculino que mais me afecta, estimula, transtorna.
Não sendo um exercício sexual, há nele algo de primitivo. Ao aproximar-me da verdade através da nudez, é inevitável o confronto com o lado sexual da questão. O corpo não pode ser reduzido ao sexo, mas quando tão perto do animal, não será da verdade que está perto? A transparência, a essência, do corpo despido, é tão eminente, que na sua presença, se nasce do desejo, será certamente platónico. Intocável.
O Ser que está nu é maior. Se a roupa nos esconde, esconde uma parte de nós. Diminui-nos. Gaspar existe nesta sala sem qualquer atenuante. É inteiro.
Se para mim é mais fácil, ele só por estar nu tem importância. E eu arrasto-me na sua nudez prolongando-lhe a presença em mim. Só precisa de protecção quem é fraco. Quem é forte não precisa de protecção.”