sexta-feira, 2 de julho de 2010

O meu avô

O meu avô comove-me. Chega-me ao coração antes de me chegar à cabeça. Ainda nem percebi o que ele está a dizer e já tenho os olhos molhados e só me apetece abraçá-lo e não existem guerras nem fome nem desemprego nem injustiças sociais quando o meu avô sorri para mim e me diz que sente falta dos nossos passeios de bicicleta. E eu sinto mais falta ainda. Agradeci-lhe ter a coragem de mo dizer. Porque o meu avô é o meu lado feliz, simples. E os passeios de bicicleta e os pinhões a saber a terra são a metáfora dessa felicidade. Naquela altura a minha bicicleta era mais pequena e para olhar para o meu avô eu tinha de olhar para cima. O meu avô sabia tudo. Hoje, já não tenho de olhar para cima, e o meu avô continua a saber tudo. Acabámos a falar do 25 de Abril. Foi nesse dia que o meu avô disse uma frase que me acompanha: “eu não quero acabar com os ricos, quero acabar com os pobres”. Saí de lá a chorar. Era toda pássaros a cantar e roseiras carregadas de flores e camas de bonecas e serrotes, pregos e latinhas de tinta, uma escada íngreme para um sótão abandonado e um jogo de madeira, pintado à mão. E um sorriso, tantos sorrisos.

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