quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Do Kitch aos jogos olímpicos

Nutro, e não é de hoje, uma certa antipatia pela China. Quem me conhece de perto sabe que cumpro um boicote pessoal a artigos chineses que não têm outra mais valia que a de um preço conseguido por meios, vá lá, duvidosos. E não me refiro só às condições de trabalho exploratórias, refiro-me também à precariedade dos materiais. As lojas dos chineses parecem-me sempre depósitos de lixo-à-espera-de-acontecer. Os objectos têm um vida curta e indignificante. Depois, e principalmente, os motivos de ordem pessoal. Não consigo ser indiferente ao que se passa na China. Admiro alguns aspectos da sua cultura (e sei que esta é provavelmente inseparável dos acontecimentos que desaprovo). Tenho, no entanto, dificuldade em compreender muita coisa: a história de matarem/não quererem meninas (uma forma de controlo de natalidade, no mínimo, desumana), a pena de morte, a censura, a falta de liberdade de expressão, a desvalorização do indivíduo, a ditadura, o desrespeito geral pelos direitos humanos. A própria e mítica muralha foi ordenada pelo mesmo homem que mandou queimar todos os livros anteriores a ele. A sensação que tenho, é que as coisas não mudaram muito, a China continua de alguma forma separada do mundo, agora, através do controlo (passe o eufemismo) de informação que entra e que sai. A “verdade” é desenhada e a verdadeira é “queimada”. Na China não se vive em Paz, ou vive, numa aparente paz armada. O massacre de Tiananmen é ainda reflexo da forma como se resolvem “problemas” naquele país, naquela mentalidade. Logo, acredito que, quem luta contra este regime, está a lutar pela paz.



O Nobel da Paz pareceu-me oportuno. Senti isso quando no trabalho percebi que havia quem não soubesse sequer que a China é regida por uma ditadura (teoricamente) comunista. Ou quando vi nas pesquisas mais frequentes do yahoo o nome de Liu Xiaobo. Também não sei se tinha de ser ele, mas acredito que a chamada de atenção para o que se passa na China foi pertinente, assusta-me uma ditadura estar a tornar-se numa potência mundial. E o mais estranho, é que a censura comum na China é como um assumir de que algo não está bem, quem não deve não teme. Não esconde. A censura à própria notícia acerca do Nobel, a prisão domiciliária da esposa de Liu Xiaobo, o cancelamento de visitas e corte de relações: a própria reacção ao Nobel só reforça a pertinência do mesmo.


Chocou-me a associação deste Nobel ao anterior, Enjoa-me a ideia de que todo o mal no mundo é culpa da América. Parece-me uma posição redutora e cobarde. Para acabar, e por onde começou esta revolta, a posição do PCP em relação a este Nobel. Pareceu-me extremamente deselegante esta pretensa solidariedade partidária. O Regime Chinês é uma ditadura, e de comunista, tem cada vez menos. Quem quer respeito tem de se dar ao respeito. Assim, a minha imagem da China é ainda povoada por uma menina bonita a cantar com a voz de outra, mais feia.

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