segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Não há fome que não dê em fartura

Talvez devido à crise e a outros acidentes, peguei (finalmente!) n’ “Uma pequena história do mundo” de E. G. Gombrich. 

De menina, guardava a ideia de que o mundo já tinha estado arrumado, crescida, pensei portanto, que o estavamos agora a desarrumar. Depois desta viagem sucinta pela história, aprendi que o mundo nunca esteve arrumado. Foi tendo altos e baixos. Foi tendo fluxos de brilhantismo esmagados pelo exagero - a massificação das melhores ideias transformou-as em coisas más, levando a que as pessoas no fim confundissem o ideal de origem e a forma como os homens lidaram com ele (ex. Iluminismo). À liberdade, por exemplo, apontaram-lhe o dedo quando foram os homens que não souberam fazer dela o uso devido. É complicado - houve sempre quem se aproveitasse da liberdade para abusar e houve sempre quem se aproveitasse desses quantos abusos para culpar a liberdade.

No final de um passeio pela história onde soltei uma lagrimita ou outra (sempre tímidas, que o metro não é sítio para chorar), surpreendeu-me no fim, mais a sensação de presente que a de passado – foi a proximidade temporal que me arrepiou, a escravatura enquanto “normal”, a inferiorização das mulheres, a segunda guerra mundial – tudo muito recente quando contemplando o tempo que demorou já a nossa história.

Também recente, chamou-me a atenção a revolução industrial. Nessa altura os patrões perceberam que podiam pagar muito pouco porque havia muita falta de emprego, passado algum tempo perceberam que não conseguiam escoar o que produziam devido à falta de poder de compra.

Hoje, como na época da revolução industrial, a percepção é de progresso, temos a sensação de que estamos a evoluir depressa. Não estamos. É a tecnologia, são as coisas que estão a evoluir depressa. Nós, homens, ainda estamos muito atrasados - ainda não é claro que para uma evolução e enriquecimento justo estáveis é necessária a cooperação entre as mentes, é preciso o respeito. E dirijo-mo aqui tanto ao “pobre” como ao “rico”, que os erros que cometem são no fundo os mesmos, em situações e/ou oportunidades diferentes:

Se na idade média eramos como crianças que não distinguiam o bem e o mal, agora somos como adolescentes - mimados, cheios de direitos e sem deveres, com uma capacidade de visão que se estende pouco além do Umbigo e do que reluz, inconsequentes e caprichosos, egoístas e com pouco respeito pelos nossos pais e o que lutaram por nós - longe do bom senso, portanto.

Para acabar, que não me confundam o tom – é de esperança – que o mundo, devagar, é hoje melhor do que era - à custa de mártires e outros heróis, as mulheres e os homens são iguais, os pretos e os brancos são iguais. Como nas vidas de que é feita, precisa também a História de tocar os extremos para aprender o equilíbrio. 
E vem-me à cabeça com um sorriso aquela frase que ela me disse há já alguns anos: “I base all my life in hope”, e depois explicou-me: em cada situação as coisas podem melhorar ou piorar, e porque não acreditar na primeira?

Sem comentários:

Enviar um comentário