terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Saltos para a água

Saltei das pranchas das Piscinas Municipais pela primeira vez aos 13 anos. Ainda no mesmo Verão avancei para a 2ª (7m), e precisamente no último dia, para a 3ª (10 m). Foi um salto ímpar. O Verão acabou. Passei o Inverno a aguardar o Verão seguinte. Ele chegou. Eu sabia que sabia, sabia que nunca me tinha magoado, mas nesse Verão até a 2ª prancha me assustava. Conhecia o caminho, já o tinha percorrido, mas não era capaz de repeti-lo, estava demasiado presa. Quem salta ou saltou, sabe que é tudo uma questão de não controlar o salto, há uma direcção e uma velocidade, a partir daí o corpo fica entregue à sua natureza. É preciso confiar. Acabei por saltar da 2ª prancha, mas foi preciso mais um Verão chegar perto do fim para voltar à 3ª prancha. Desta vez saltei mais alguns dias e prometi a mim mesma não hesitar no ano seguinte.

Assim, na imortalidade dos meus 15 anos nenhum mergulho era perigoso. E Lá ia eu avançando pelo Verão na direcção do próximo salto. Foi o ano em que evoluí mais, da 1ª e da 2ª prancha, fazia cadeirinhas, saltava de cabeça, ainda arrisquei uns mortais na 1ª que nunca foram muitos brilhantes. Da 3ª só de pés, mas porque um amigo me disse que era realmente perigoso saltar de cabeça, a piscina não tinha comprimento. Lembro-me de uma tarde em que ouvi um amigo lá em baixo “ela tem mais tomates que eu!”. Fez-me sorrir.

No Inverno seguinte, comecei a namorar, pela primeira, como se fosse para sempre. Tornei-me mortal e nesse Verão a 3ª prancha não me viu, a 2ª só me viu de pés, e na 1ª pouco mais que uns humildes mergulhos de cabeça. Raramente fui às piscinas, de resto.

2 anos depois, com os fresquinhos 18 e a aprender pela primeira vez a finitude das coisas infinitas, voltei às piscinas, queria sobretudo voltar às pranchas. Comecei devagar, não fui à 3ª, foi fechada por razões de segurança. Fui à 2ª, saltei de cabeça, fiz as minhas vergonhosas tentativas de mortal na 1ª. Achei que morria, durante os segundos em que o ar não entrou após uma desastrosa entrada de peito na água. Voltei à superfície e era de novo imortal. E foi nesse Verão que aprendi o mergulho para dentro, aquele de que mais me orgulho. O símbolo da minha readquirida liberdade.

Era livre. 

A liberdade é um conceito estranho. Ninguém é livre quando se importa. E quem não se importa, é livre para quê?


Isto tudo porque me lembrei do Verão, daquele em que não fui capaz de saltar da prancha, mesmo sabendo que conseguia e que era bom, e ainda hoje não sei porquê.

p.s.: E oficializo assim mais uma resolução para 2011: este Verão há saltos para a água!

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