sábado, 12 de janeiro de 2013

Faz hoje um ano...

...que cheguei a Munique.

Faz hoje um ano que deixei tudo o que me aborrecia - estava profundamente aborrecida, dormente. Deixei tudo o que me aborrecia e deixei tudo o que amava.

Nas resoluções que trazia, procurava tempo, tempo para me ouvir, e tempo para descobrir, tempo para receber estimulos, para ler, para ver bons filmes, para ir a boas exposições, e principalmente para escrever. Tempo e espaço, também precisava de espaço.

Não foi nada como esperava. Comecei por preparar uma candidatura em inglês que comecei desde o início a enviar. Percebi ao fim de pouco tempo que não ia resultar, precisava de me candidatar em alemão. Enquanto não fosse capaz de comunicar em alemão não encontraria trabalho.

Decidi então começar pelo alemão e mesmo antes de começar o curso intensivo que entretanto fiz, fui logo dedicando todo o tempo e disponibilidade a aprender alemão como deve ser.

A partir dai, sempre que tentava ler em português, era invadida por sentimentos de culpa: Andreia Margarida, devias estar a ler em alemão, tens de te tornar fluente o mais depressa possível. Tentava então ler em alemão, mas a um ritmo tão lento e esforçado que retirava qualquer prazer ao acto da leitura, reduzindo-o ao puro exercício.

Tudo se tornaram exercícios, todo o tempo era dedicado a esta língua que eu adorava, mas que me separava ainda de concretizar os meus objectivos. Fiz poucas coisas por prazer puro, via filmes em alemão, lia os livros de alemão, estudava vocabulário alemão, gramática alemã, e até a música que ouvia era sobretudo alemã. Nas pouquíssimas pausas que fazia, tinha a cabeça sempre tão cheia que não me deixava espaço para nada que exigisse alguma concentração, ou um estado mais activo da mente.

Ao fim de 5 meses, quando finalmente comecei um trabalho em alemão, percebi que não seria o fim da luta, mas o príncipio. A simples actividade que comunicar esgotava-me por completo, ao chegar a casa sentia-me sempre vazia, como se me tivessem chupado a energia.

Quando cheguei ao fim do ano e começaram a sair as listas dos melhores álbuns do ano, notei com horror que mal sabia que álbuns foram editados este ano, notei ainda que num ano inteiro li talvez 3 livros, e que filmes com qualidade vi pouco mais.

E pensei que falhei. Mas depois, depois pensei melhor.

Desenvolvi uma língua nova, tornei-me capaz de comunicar nela em 5 meses (yeahhh), arranjei realmente emprego, comentários ressabiados à parte, numa revista de grande prestígio e história na sua faixa de mercado. Tive um acidente, perdi a consciência e a memória, e foi horrível, mas agora sei como é, e sei o que são outras coisas que antes na sabia. E apaixonei-me e troquei um beijo como se fosse a primeira vez. E tudo isto são também estímulos.

Quando olho para trás, não podia ter sido um ano mais rico. Foi um ano introdução, foi um ano em que preparei a vida que tenho agora. E que adoro.

No último ano aconteceram coisas muito más e muito boas. Ora fui arranhada ora acariciada, o que é certo é que este ano ficou-me impresso na pele. Ou mesmo nas vísceras.

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